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Um estúdio de tatuagem no interior

02/07/2020 às 15h01min

Quando se fala em empreendimentos na área rural tudo leva a crer que o negócio está ligado à agricultura, ramo alimentício ou turismo, certo? Errado. Em Linha Brasil, interior de Venâncio Aires, um estúdio de tatuagem vai na contramão do que a maioria das pessoas espera ou imagina de um negócio no interior.


Há 5 anos, Juliano José Eckert, 40 anos, transformou a garagem de casa em um estúdio de tatuagem. Depois de mais de uma década de atuação na área mecânica e de automação industrial, um acidente de trabalho levou o profissional a mudar completamente de ramo.


Em 2009, Eckert teve duas paradas cardíacas após uma descarga elétrica e ficou com cicatrizes no corpo. “Eu quase morri, tomo remédio para o coração até hoje. Quando isso aconteceu, eu pensei: será que vale a pena trabalhar para os outros minha vida inteira?”, reflete.


Para tentar cobrir as marcas do acidente nos braços, resolveu fazer uma tatuagem. A primeira sessão não ficou do seu agrado, mas foi dito que na segunda melhoraria. Fez mais duas aplicações e ainda assim não estava contente. “Na terceira vez, eu falei que ainda não era isso que eu queria e o tatuador me disse: ‘se não gostou, então faz mesmo!’, e eu fiz”, relata.


Foi então que comprou máquinas simples de tatuagem pela internet para tentar deixar o desenho como queria. “Depois fiz uma na minha esposa, uma amiga dela viu e quis também fazer”, conta. No mesmo período, surgiu a oportunidade de trabalhar como gerente de produção na empresa de um amigo, onde ficou por um ano e meio. “Depois ele decidiu mudar a empresa de estado e foi quando eu entrei de cabeça no ramo da tatuagem”, conta.


Traços

Eckert comenta que, desde a adolescência, tinha como hobby a pintura em telas, o que deve ter ajudado na facilidade do desenho. “Desenho no papel é uma coisa e na pele é outra, então para entender sobre como cuidar e trabalhar com tatuagem eu busquei conhecimento, comecei a investir todo o dinheiro que tinha para tentar chegar a uma tatuagem perfeita”.


Hoje, a esposa do tatuador, Denise Beatriz Schwaikart, é quem cuida da parte administrativa do negócio. O investimento foi de aproximadamente R$ 15 mil para se capacitar e deixar o estúdio pronto, com todos os equipamentos necessários. “Temos um escritório pequeno, anotamos tudo e temos o controle dos gastos ‘na ponta do lápis“, ressalta.


O tatuador conta que, no início, as pessoas achavam que era loucura, que não ia dar certo. “Todo mundo ria e me chamava de louco, mas era isso que me dava força. Consegui formar uma clientela e tem pessoas que vêm até da Alemanha porque gostam do meu trabalho e do ambiente daqui.


O profissional faz de três a quatro tatuagens por dia e atende de segunda-feira a sábado. Há 3 anos, também não tira férias. “Eu estudei muito para uma coisa e hoje trabalho com algo que não precisa tanto estudo, mas muita dedicação”. Esses ensinamentos, ele transmite para a filha, Amália, de 10 anos, que também já se aventura no mundo dos desenhos.


“Acordo todos os dias de manhã, abro a janela e penso que vou trabalhar para mim. E isso é muito bom. Não me vejo mais trabalhando para outra pessoa.”

JULIANO JOSÉ ECKERT
Tatuador


De agricultor, seminarista e mecânico a tatuador

Natural de Rincão de Souza, Juliano Eckert mora há 17 anos em Linha Brasil. Começou a trajetória como agricultor e ainda na juventude decidiu que queria ser padre. Ficou por 5 anos no seminário, o que lhe rendeu o apelido de ‘Padreco’.


Desistiu da carreira cristã e começou a trabalhar numa metalúrgica. Fez o curso de Mecânica no Senai de Venâncio Aires e trabalhou por 12 anos como encarregado de manutenção em uma madeireira. Durante o período, também se especializou no ramo de mecatrônica, trabalhando com automação industrial.


Hoje, a intenção do empreendedor é abrir um estúdio de tatuagem também na cidade. A ideia era que fosse feito ainda neste ano, mas, em função da pandemia, deve ficar para mais adiante.


O novo espaço deve contar com estúdio de tatuagem, barbearia e bar juntos, com a temática retrô. “Não vamos nos mudar, mas sim abrir um outro espaço. Posso dizer que 90% dos clientes não são de Venâncio e gostam de vir aqui para o interior”.


Série Empreendedores locais

Nesta quinta-feira, 2, a Folha do Mate publica a segunda matéria da série com empreendedores locais que investiram no negócio próprio, mudaram de área de atuação e se reinventaram enquanto profissionais. A intenção é mostrar cases de histórias de sucesso, com pessoas que viram na mudança uma oportunidade de conquistar a realização pessoal e profissional. Tem sugestões de histórias para este espaço? Entre em contato pelo WhatsApp (51) 98943-4110.


Créditos das fotos: Alvaro Pegoraro - Jornal Folha do Mate

Créditos dos textos: Cassiane Rodrigues - Jornal Folha do Mate

Fonte: Jornal Folha do Mate

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