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85 anos do Négo: o clube para negros que conquistou a comunidade venâncio-airense
05/07/2020 às 12h42min
Uma das entidades afrodescendente mais tradicionais do Rio Grande do Sul completou 85 anos de atuação. Em 29 de junho de 1935 foi criada a Associação Négo Football Club Acadêmicos do Samba com o objetivo de reunir a comunidade negra, que era proibida de frequentar clubes e festas tradicionais de Venâncio Aires. Nas últimas décadas, a sociedade é responsável por desempenhar um importante papel social e cultural no município.
A ideia do clube surgiu entre amigos e o funcionário público João Generoso dos Santos, já falecido, que fundou a sociedade na casa dele. Segundo a filha, Isabel Generosa Landim, a entidade foi criada por causa do racismo. “Meu pai se incomodava que no Guarani tinha um goleiro negro, o Ataliba e, quando o time perdia a torcida insultava ele com palavras como ‘nego sujo e macaco’, por isso ele resolveu criar um espaço para os negros”, relembra.
Inicialmente foi criada uma bailanta, um espaço para bailes. Com o tempo, muitas pessoas negras começaram a frequentar e foi criado o Négo. “Primeiro foi na casa dele, depois compraram um terreno na Emiliano de Macedo, onde ficou por 40 anos. Posteriormente a sede mudou para o atual prédio, na rua Engenheiro Henrique Vila Nova.”

João Generoso ficou no cargo de presidente por 20 anos, depois se afastou do clube. Por isso, durante infância, Isabel não conviveu muito no Négo. “Lembro que quando a sociedade fez 25 anos, meu pai pediu para assumir a presidência por seis meses para fazer a festa de aniversário. Foi um dia inteiro de comemoração e à noite ocorreu o baile. Foi muito lindo, mas foi a última participação dele como presidente”, recorda Isabel.
A filha também conta que quando ele ainda era presidente, ela assistia os bailes da cozinha da vizinha do clube, que cuidava de Isabel e dos irmãos. “Achava muito lindo ver os casais dançando juntinhos, pois não existia dançar sozinho como hoje.”
ISABEL GENEROSA LANDIM – Filha do fundador e ex-presidente
“Hoje, o Négo não é uma sociedade totalmente negra, é aberta para não negros que simpatizam com a cultura. Atualmente, é uma sociedade adorada por todos e isso é gratificante.”
De pai para filha
Para dar continuidade ao trabalho do pai, em 2006 Isabel assumiu a direção da entidade e ficou no cargo por seis anos. “Só quando fui presidente do Négo aprendi o que é ser negra, pois participei de encontros nacionais de clubes afrodescendentes.” Foi nessa fase que ela percebeu que deveria resgatar novamente mais a essência do clube. “Reforcei as atividades de educação, lazer e desporto, que meu pai sempre enfatizava.”
Carnaval
Conforme Isabel, o pai dela contava que o Carnaval sempre foi uma atividade praticada pela entidade. “Na época era o cordão de Carnaval. Ele contava que saiam à tarde pelas ruas da cidade, cantando marchinha e recebiam refrigerante e doces dos moradores.” Depois foram se adaptando à cultura do Carnaval e começaram os desfiles.
Hoje em dia, a Acadêmicos do Samba, escola de samba vinculada à associação, é a mais antiga do município e, também conhecida como a mais tradicional. “Ela tem uma história e cultura que foi construída aos poucos, por isso é respeitada pelo povo”, diz Isabel. Os bailes e ensaios de Carnaval também são movimentados. “Desde a época dos cordões, os associados se juntavam para ensaiar as marchinhas. Sempre foram momentos alegres e isso se manteve.”
Créditos das fotos: Leandro Osório - Divulgação
Créditos dos textos: Jornal Folha do Mate
Fonte: Jornal Folha do Mate
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