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Albergue: um lugar para dormir e conviver
10/07/2020 às 09h52min
Quem entra no Albergue Municipal se depara com uma casa ‘normal’, arrumada, com quartos, cozinha, sala, pessoas conversando e assistindo à televisão. Mas, por trás de cada rosto, histórias de vida revelam como cada um chegou até o abrigo e como estão tentando se adequar à nova vida.
Coordenada por Darci José dos Santos, 57 anos, a casa acolhe, em média, quatro homens por noite. Entre eles está Jonathan Gabriel Castro, 23 anos, que é natural de Colón, em Entre Ríos, na Argentina, e está no abrigo há uma semana. Ele já havia se hospedado no local em outras passagens por Venâncio Aires.
Admirador da Língua Portuguesa, o argentino decidiu vir para o Brasil em 2018 para aprender mais sobre a cultura e tentar fazer o que gosta – malabarismo e artesanato. “Eu queria conviver com o povo brasileiro e aprender a falar português”, explica.
Ele passou por quase todo estado e já veio para o município outras vezes. “São poucos os lugares do Rio Grande do Sul que não conheci.” Mas em algumas cidades que ele foi, as experiências não foram boas, pois não tinha albergues e o trabalho foi pouco valorizado. “Tem cidades que o malabarismo é admirado, outras não.” Quando não havia onde ficar gratuitamente e ele não tinha dinheiro para pagar uma pensão, Castro dormia na rua. “Garanto que não é uma boa experiência”, afirma.
O albergue do município lhe ajuda a ter roupas, cama, banho e alimentos. “Em Venâncio sempre sou bem recebido, eu sei que chego e posso vir no albergue, porque serei acolhido.” Para o malabarista, a casa é um apoio. “É um espaço importante para quem não tem para onde ir, porque sem dinheiro pode acabar na rua”, ressalta o jovem, que pretende continuar conhecendo o Brasil por mais tempo.
Recomeço
Outro usuário do albergue é Antônio Alfredo Espindola, 60 anos, que vê o abrigo como um incentivo para, como ele mesmo referiu, “não desistir da vida”. Há quatro meses, ele se separou e precisou sair da casa onde residia, no interior do município. Ele ficou alguns dias dormindo na rua e depois descobriu o Albergue Municipal.
Espindola comenta que não tinha escolha, não tinha onde morar, contudo sabia que não queria ser um ‘morador de rua’. “Eu queria uma casa de novo, eu não podia ficar na rua, então me informaram sobre o albergue.” Espindola lembra que algumas pessoas que conheceu na rua não queriam ir para a casa, porque precisam cumprir regras. “Eu ouvia que era ruim, tinha que tomar banho e não podia fazer muita coisa, mas eu não me importava de cumprir regras, porque eu queria ter um lugar para dormir melhor”, conta.
Depois que começou a frequentar o abrigo, ele também procurou ajuda no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Estou tentando melhorar, vou em todas as consultas e quero recomeçar a vida.” Para ajudar ele, o centro está tentando auxiliar o encaminhamento da aposentadoria. “Quero ter a minha casa de novo, estou tentando isso.”
JONATHAN GABRIEL CASTRO -mFrequentador do albergue
“Aqui temos uma casa, com comida, cama, banho e atenção. O básico que todas pessoas deveriam ter.”
“Tem regras como qualquer outra casa”
O coordenador do Abrigo Municipal, Darci José dos Santos, está há um ano e meio no cargo. Ele usa a experiência que teve como vigia para ‘liderar’ os frequentadores da casa, pois eles precisam cumprir regras.
Tomar banho todos os dias, não entrar com bebidas alcoólicas e ajudar no serviço da casa, são algumas normas que devem ser seguidas, mas nem sempre agradam. Conforme Darci, eles precisam tomar banho, sentar para jantar todos juntos, lavar os pratos e arrumar a cama. “Às vezes, eles não gostam e tentam não fazer, principalmente a parte do banho”, relata.
Quem quer passar a noite na casa, também precisa chegar até as 20h, assinar um livro e não sair mais para a rua durante a noite. O jantar, que é feito pelo coordenador e pela esposa Sulferina Rodrigues dos Santos, 59 anos, é servido em seguida. No dia seguinte, pelas 7h30min, eles disponibilizam café e posteriormente os usuários precisam sair para fazer suas atividades.

Santos e Sulferina, normalmente, ficam no abrigo das 17h até as 8h do dia seguinte, pois durante o dia o albergue está fechado. “Incentivamos os homens a irem procurar emprego durante o dia, quando alguém tem consulta é regra ir e apresentar o comprovante. São cuidados com eles que incentivam a responsabilidade”, acrescenta.
Redução
Desde março, quando começou a pandemia do coronavírus, o albergue alterou o número de atendimentos e de 12 reduziu pela metade. Conforme o secretário de Habitação e Desenvolvimento Social, Mateus Deitos Rosa, essa é uma medida necessária para reduzir aglomerações. Além de afastar as camas, a casa disponibiliza álcool em gel e a limpeza foi redobrada.
Ele ressalta que, por conta do frio, a capacidade pode ser repensada, porque no ano passado, nesta época, eram sete os frequentadores da casa. “No inverno e em dias chuvosos, a procura tende a aumentar, mas esse número varia, porque tem gente que vai uma noite e não volta mais”, observa.
Saiba mais
- O Albergue foi inaugurado em 2017 e, está localizado na rua Júlio de Castilhos, 1409, no Centro de Venâncio Aires.
- A casa tem capacidade para abrigar 12 pessoas. Durante a pandemia esse número reduziu pela metade.
- Somente homens podem permanecer no local. Mulheres e crianças desemparadas recebem um quarto separado e, assim que possível, são encaminhadas para outros locais, como casas alugadas.
- O local funciona das 18h às 8h30min e limita a entrada de pessoas até as 20h.
Créditos das fotos: Eduarda Wenzel - Jornal Folha do Mate
Créditos dos textos: Eduarda Wenzel - Jornal Folha do Mate
Fonte: Jornal Folha do Mate
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